Salve salve, pessoal!
Gente, falar de saudade é algo muito interessante. Esse sentimento pode ser intenso para uns e tão normal para outros. Mas, só sei que saudade é saudade e ponto final. Sinto falta de todo mundo no Brasil. Se eu pudesse viajar e levar todos para compartilhar essas aventuras seria realmente algo incrível. E é claro – não nos deixaria com tanta vontade de voltar para casa. Mas, esse gostinho também é legal: quando chegar os dias de retornar, a gente vai ficando louco: sente a falta da comida da mãe (apesar de que a minha mãe não cozinha para mim todos os dias. Mas, QUANDO cozinha, arrebenta no fogão); sente falta do cafuné e das conversas da namorada (muita falta!) e do convívio dos amigos. No geral, o que a gente gosta, faz falta quando se tira ou se está distante.
Cuba foi uma das experiências mais inesquecíveis de toda a minha vida. Putz. 08 dias que voaram. O festival foi bacana de mais. Valeu esperá-lo durante quase três meses e curtir, claro, o que o mercado alternativo tem produzido na América Latina. As discussões foram legais e as exibições superaram todas as minhas expectativas. Tirei várias fotos antes das sessões. O que se pode notar, é que realmente o povo cubano é ligado à cultura. Impressionante o tamanho das filas para assistir os filmes. E o movimento era intenso em todos os cines de Havana. Quase dava morte lá, do povo tentando entrar nas salas. Um filme do festival custava dois pesos. Algo em torno de cinco reais para todo mundo. Muito acessível. Dizem que nas bibliotecas, o movimento também é intenso. Existe um grande incentivo a educação em Cuba. Na rua, é muito interessante: por todos os lados, gente lendo os jornais diários. Interessante mesmo. Enfim: cubanos estão antenados com o mundo.
Todos os dias pela manhã, eu, Cláudio (meu amigo diretor de cinema) e um casal de japoneses, saíamos do hotel e íamos ao Nacional de Cuba buscar a programação do festival. Lembro que na sexta-feira, também não seria exibido nenhum filme brasileiro. Então, fomos repetir a dose da caminhada; previamente anunciada aqui no blog na penúltima atualização. Cláudio precisou resolver um problema na Universidade e ficou para trás. Eu e o casal de japas seguimos para a Praça da Revolução e de lá, rodamos para a Havana Velha. Mais de uma hora de caminhada, que valeu a pena. Gente, Old Havana é uma mistura de tudo. Já vou explicar. Na primeira visita, é assustadora. São casarões de dois ou três andares, que são utilizados como cortiços. O povo vive num amontoado que imediatamente sentimos falta de nossos quintais brasileiros. Agora, imaginem umas 100 mil pessoas vivendo assim? É incrível. Bom, fora daqueles city tours que as operadoras oferecem, onde você fica rodando no ônibus prá lá e pra cá, nosso passeio foi a pé. Entramos em diversas residências e conversamos com o povo cubano. Falando um portunhol meio esquisito fui ajudando os japas (que só falavam em inglês) e ia me virando nos questionamentos. Até que o meu inglês não está ruim não; dá para se virar geral. Agora, espanhol, putz, que língua do caralh#####! Até cheguei a cogitar o porquê da Espanha não ter descoberto o nosso país. Todos os nossos irmãos falam espanhol e a gente, esse bendito português; que dá para ser usado em Portugal, Macau, Haiti, Angola e outros. Muito legal, não é mesmo? Sem contar que nem o povo brasileiro sabe ao certo usá-lo. Difícil…
Fotos de Havana Velha
Nessas entradas em cortiços, fomos conhecendo um pouco da história dessas pessoas que desde 1959 acompanham o processo revolucionário cubano. E quando falo que sou brasileiro, a festa é geral. Um chama o vizinho, que chama o outro e por ai. Querem saber de tudo: do Kaká, do Ronaldinho e do Lula. Observam na figura do Lula, como a pessoa que veio para mudar o mundo. Acreditam de mais no potencial dele. Nesses diálogos, eu não deixava de frisar que o povo brasileiro ama o povo cubano. Eles achavam a maior maravilha falar isso. E não tem como não gostar deles. São pessoas sofridas, envolvidas em um processo socialista (o que significa: todo mundo tem ou todo mundo não tem). Mas, tem muito cubano bem de vida lá também. São indivíduos que possuem algum parente na América (Flórida) e que como os brasileiros, fizeram a vida no passado. Juntaram grana e ajudaram quem ficou na ilha de Fidel. Então, aquela idéia que Cuba só tem carro velho, caindo aos pedaços é furada. Tem muito carro novo rodando na cidade (capitalismo???). Marcas da França, Alemanha e Japão.
Tenho lá minhas dúvidas de como o socialismo agüentará as pressões externas. O povo da antiga, ama Fidel de coração. Agora os jovens, tenho lá minhas dúvidas. Eles querem é carro do ano e como no Brasil, não estão lutando em massa por nenhum direito não. Se o embargo americano acabar ou diminuir, quem sabe melhorem as coisas por lá. Cubanos estão loucos para que o Obama realmente assuma a presidência (acho que já comentei isso aqui antes). Por ser negro, acham que o mesmo lembrará-se de suas origens. Será? Torço para que sim. O povo da ilha precisa comer. A foto abaixo retrata um pouquinho do carisma dessas pessoas. Apaixonei com essa senhora. O sonho dela seria conhecer o Brasil. Eu falei que a traria dentro da minha mala, se ela quisesse. E ela respondeu: “E o homem deixa???”. O homem era o marido, que ficava com um sorriso aberto do lado. Vivem das fotografias que tiram em frente ao Capitólio (centro de Havana Velha, sede do Governo), naquele sistema antigo ainda – onde revelam a foto na hora, em preto e branco. Maior barato. A foto custa 6 reais (2 CUC`s). Nem sei onde coloquei a minha; tirei para ajudar. Ela pediu para o dia que fosse voltar para o Brasil, que era para ir lá despedir deles. E eu fui com o casal japonês. Putz; a senhora e o senhor me abraçaram de tal forma, como se fôssemos amigos há 40 anos. Deixei-os e fiquei com uma saudade bacana. No final do dia, quando voltava para o hotel, fiquei pensando neles. Quando forem a Havana, não deixem de tirar essa fotografia com os respectivos. E, se me perguntarem quais seriam as duas fotos preferidas da minha viagem a Cuba, seriam essas:
Do Capitólio, seguimos para a La Bodeguita Del Médio, para realizarmos a última refeição no local. Seria uma forma de despedida. Como já estávamos “dominando” Havana Velha, achamos sem o menor problema. Senti que os Japas estavam um pouco chateados. Quase no dia de irem embora. Batia-me uma dor diferente também no peito. Havana mexe com as pessoas (pra quem realmente está antenado com o mundo). Tem gente que vai lá para curtição e foda-se Havana Velha com tudo que estiver dentro. Almoçamos com um copo de El Mojito para não perder o costume. O cardápio da casa é bem legal e não é caro. Comida show de bola.
Fotos La Bodeguita Del Médio
Depois da Bodeguita, seguimos para uma feira de artesanato que acontece ali próximo. Canal ideal para comprar coisa barata. Como estava sem dinheiro trocado, não arrematei nada. Foi uma pena. Tinha investido o meu dinheiro em três coisas com os Japas: no canhonaço (que explicarei abaixo o que é), numa viagem para a praia de Varadero (130km de Havana para o Sábado) e um show de sei lá qual ex-integrante do Buena Vista Social Club. Vamos por partes (igual Jack, o Estripador):
01 – O canhonaço é um ritual que se repete todos os dias. Quando Havana ainda tinha uma muralha, um tiro de canhão era dado do forte, para abrir e para fechar o portão da cidade; impedindo assim, ataques surpresas dos inimigos. Havana não tem mais essa muralha, mas, civicamente realizam esse ritual diariamente (forma de ganhar dinheiro de turista. 08 CUC`s, cerca de 24 reais). O taxi até o local são mais 05 CUC`s (ida e volta, 30 reais). Vale é juntar uma turma e ir. Dizem que essa cerimônia é realizada apenas em dois países e no mesmo horário de 21:00h: Cuba e Porto Rico. Não é atirada nenhuma bola de canhão; mas, o estouro do esquema é bacana. Assusta todo mundo.
Fotos canhonaço
02- Passeio por Varadero: compramos um passeio para Varadero. Varadero seria uma “Porto Seguro” da vida no Brasil. 22km de costa, com 52 hotéis (resorts). Coisa de cinema mesmo. Mar do Caribe é Mar do Caribe e ponto final. Mas, o pessoal de lá não tem essa ginga que temos no Brasil. A gente precisa ficar procurando coisa para comprar para comer e beber. Em nosso país, o pessoal da assistência nas barraquinhas e não nos faz ficar correndo atrás. Mas, valeu. Eu descansei demais e fiquei curtindo o visual que é impressionante. A água é transparente e ao longe, forma-se um azul muito bonito. Enterrei o pé na areia e até dormi para vocês terem idéia. Dei uma desligada geral do mundo. Retornamos no mesmo dia. Cheguei ao hotel correndo para tomar um banho. Era show de um dos integrantes do Buena Vista Social Club (famoso grupo cubano).
Fotos Varadero
03 – Compay Segundo: Bom, os cartazes diziam que o show era do Compay Segundo. Aquele Sr. que eu postei a foto e pedi para vocês descobrirem quem seria, não é Compay Segundo. E eu achei que era. O Lellis descobriu que Compay Segundo teria morrido em 2003. Então, quem seria o cara? Sei lá. Só sei que anunciaram na festa (imagine uma festa com todos sentadinhos, num hotel tipo o Grande Hotel de Araxá – coisa fina). Todo mundo tirou foto com o sujeito. Será que ele é Compay Terceiro? Sei não. Não faço a idéia de quem seja! Ahahaha Então, ninguém vai ganhar o charuto cubano porquê nem eu sei quem realmente é! Minha mãe achou que era o Martinho da Vila. Ahhaahah. Mas, o show valeu de mais. Praticamente, tocaram todos os sucessos do Buena Vista. Eu e os japas assistimos, tomando um Cuba Libre (com ron original do Havana Club). Valeu de mais.
Fotos do Compay ou de quem sei lá que for!
Depois do show, fomos dar uma volta no Malecón – que é tipo o calçadão do Rio de Janeiro. Queríamos ir até o prédio do escritório americano. O local representa uma das manifestações diplomáticas mais instigantes de todo espaço cubano (e quem sabe do mundo). Os Estados Unidos não podem ter embaixada na ilha. Então, mantém um escritório de representação. São tão carudos, que colocaram um letreiro na frente, com frases metendo o pau em Cuba, Venezuela, Mexido e etc. Até lá eles ficam dando palpite. Sabe o que Cuba fez? Colocaram 138 bandeiras negras e com uma estrela na frente do escritório. Assim, consegue atrapalhar a idéia dos americanos. As bandeiras servem como um manifesto contra o embargo sofrido pelo país. As fotos não ficaram boas, porque era muito tarde. Mas, dá para se ter uma idéia.
Fotos escritório americano.
Sábado a noite. Os japas despediram-se numa tristeza profunda. Combinamos de realizar o último almoço juntos no domingo, no hotel Ambos Mundos (reduto do escritor Ernerst Hemingway), que fica no centro de Havana Velha. O cara era boêmio de mais. Imortalizou simplesmente os locais mais bacanas da cidade. O hotel é muito bonito e bem rústico; remete-nos as décadas de 30 ou 40. Almoçamos, os japas dali mesmo foram embora para seu país. Foi comoção geral. Passamos praticamente 06 dias juntos (de manhã, tarde e a noite). Fizeram-me prometer que os visitarei no Japão. Quem sabe um dia. Foi bacana. Ainda bem que sairia de Cuba no dia seguinte. Não ter a turma para andar junto, estava sem graça. Foram grandes companheiros de caminhada por Havana Velha. Valeu mesmo.
Voltei com o Cláudio para o Nacional de Cuba. Quando estava pegando a minha última programação, a senhora do escritório me perguntou o que eu tinha achado da coletiva de imprensa do filme: “Che” – longa metragem mais esperado da mostra. E eu disse morrendo de vergonha: “Eu a perdi!”. A mulher não acreditou. Eu tinha ido para Varadero. Minha idéia era ir para a praia no domingo. Só que domingo era o dia de partida dos japas. Então, fomos no sábado. Sábado fez um sol show de bola. E no domingo, choveu de mais em Havana. Participaram da coletiva, para vocês terem idéia, o Benício Del Toro (que fez o papel de Che), Rodrigo Santoro (representou Raul Castro – Irmão de Fidel) e outros. Disseram que foi concorridíssima e no filme, teve presença em peso da imprensa do mundo inteiro. Depois que pegamos a programação, encontramos o ator brasileiro Selton Mello no Nacional de Cuba. Aproveitamos para registrar o momento e ele nos convidou para assistir a estréia do seu filme: “Feliz Natal”. Então, no domingo assisti esse e “Cegueira”, dirigido por Fernando Meirelles (baseado na obra de José Saramago – primeiro prêmio Nobel da literatura portuguesa).
Fotos Selton
Feliz Natal, dirigido por Selton Mello: em seu discurso apresentando o trabalho, Selton retrata acima de tudo, que a idéia é fazer cinema como se faz poesia. E como primeiro trabalho, apresentou uma temática super delicada e contextualizada: famílias cada vez mais desestruturadas nos dias atuais. O filme tem apoio da USIMINAS e se não me falhe a memória, partes foram rodadas na cidade de Ipatinga-MG (imagens do ferro velho). Filme foi aplaudido e acho que cumpriu seu papel social.
Ensaio sobre a Cegueira: segundo longa metragem mais esperado do festival, Cegueira trouxe o drama de uma cidade em que todos os habitantes contraíram uma espécie de cegueira coletiva. Menos uma mulher. A história traz uma reflexão sobre valores muito interessante. José Saramago e Fernando Meirelles não vieram. Mas, o produtor e um ator estiveram presentes no lançamento do longa no festival.
Acordei cedo na segunda. Era hora de arrumar a mala e partir de Cuba. Juro que arrumei tudo, com um aperto no coração. A passagem por Havana foi reflexiva ao extremo. Será que realmente precisamos de tudo que temos? Então por que não paramos de reclamar da vida que assumimos? Lá, a coisa é feia. Muito feia. No aeroporto, minha mala deu excesso de peso. Tipo que pagar um absurdo por causa de 2 quilos a mais. Fazer o que, não é mesmo. A mulher queria que eu tirasse as coisas. Iria era tirar a mão na testa dela, por ter falado uma coisa desta. Minhas coisas não ficam para trás de jeito nenhum! Depois do check in, é necessário ainda pagar uma taxa de 75 reais para o embarque (um imposto criado agora).
Peguei o vôo para o Panamá no horário. Aguardei por duas horas e embarquei para a Venezuela. Cheguei a Caracas quase meia noite. Era o momento mais tenso de todos: será que seria barrado por causa das muambas que estava trazendo na bagagem? Não era muita coisa, mas, sei lá. Vai que dava um pepino qualquer. Eram alguns presentinhos para a família. Graças a Deus deu tudo certo. Meu professor Adrián e seus filhos estavam me esperando no aeroporto. Fiquei morrendo de vergonha depois. Ele me falou que morava não em Caracas e sim, numa cidade ao lado. Sabem quantos quilômetros? 60 km. Fomos chegar à casa deles quase às 02:00AM. Putz. Isso não é hora de chegar à casa das pessoas de forma alguma. Eu pedi desculpas de mais. Ele falou que não era para esquentar. Fiquei muito constrangido mesmo. Antes de dormir, ele já avisou: “05:00am todos acordados, ok”. Eu disse: “Claro! Positivo”.
Primeiro dia em Caracas
05:00h da madrugada em ponto, ele bateu na porta do quarto. Levantei arrebentado. Mas, compromisso é compromisso. Se me deixassem, ficava dormindo até ao meio dia, certeza. 05:30h saímos para Caracas (Adrian, Norah, Marcos – filho de 09 anos e eu). Vocês não têm idéia da loucura do trânsito que realmente é isso aqui. Saímos 05:30h para chegar em Caracas às 08:00h. Muito carro na rua. Deve ser pior que São Paulo. Então, ele deixou a Norah e eu perto de uma estação do metrô. Passaria o primeiro dia no serviço dela (onde estou escrevendo para vocês). Peguei uma mesa aqui e estou mandando bala nesse relato. Daqui a pouco, vou até o computador dela e mando para o blog (tem internet). Pegamos 02 metrôs até o serviço. Chegamos aqui às 09:00h. Estou assustado até agora do tumulto que é no metrô. Muita gente espremidoa. Ela já me adiantou que na hora de ir embora, é pior. Já estou morrendo de medo das 18:00h… Bom, acho que vou poder escrever com uma freqüência melhor agora. Amanhã, está agendada minha visita com a Pamela e seu namorado (Pamela é filha do Adrian do primeiro casamento dele), na Telesur – onde trabalham (emissora de TV aqui de Caracas). A diretora do canal é brasileira e já está me aguardando para mostrar todas as instalações. Acho que vai ser legal conhecer. A idéia é ficar aqui por uns dias. Ainda estou estudando a data exata de retorno. O importante é que estou bem e morrendo de saudade de todos vocês. Fotos na rua aqui, talvez não seja uma boa idéia. O Adrian pediu para ter cuidado como se tem em um grande centro no Brasil. Então, enriquecerei meus depoimentos, para vocês imaginarem tudo, ok?
Espero que gostem desta atualização e nos vemos em breve.
Saudade. E o que é mesmo Saudade? Leiam o início deste texto! Inté!
Ralfer
Artista na Velha Havana